"Sim, o Fuhrer decidiu que dominaria o mundo com palavras. 'Jamais dispararei uma arma', concebeu. 'Não precisarei fazê-lo'. Mesmo assim não se precipitou. Reconheçamos nele ao menos isso. Ele não tinha nada de burro. Seu primeiro plano de ataque foi plantar as palavras em tantas áreas de sua terra natal quantas fosse possível. Plantou-as dia e noite e as cultivou. observou-as crescer, até que grandes florestas de palavras acabaram crescendo por toda a Alemanha. Era uma nação de pensamento cultivados.
(...) As pessoas que trepavam nas árvores eram chamadas de sacudidoras de palavras. Os melhores sacudidores de palavras eram os que compreendiam o verdadeiro poder delas. Eram os que conseguiam subir mais alto. Um desses sacudidores era uma menininha magricela. Ela era famosa como a melhor sacudidora de palavras de sua região porque sabia o quanto uma pessoa podia ficar impotente SEM as palavras.
(...)Um dia, porém, ela conheceu um homem que era desprezado por sua pátria, embora tivesse nascido nela. os dois se tornaram bons amigos e, quando o homem adoeceu, a sacudidora de palavras deixou uma única lágrima cair no rosto dele. A lágrima era feita de amizade - uma só palavra - e secou, e se tornou uma semente e, ao voltar à floresta na vez seguinte, a menina plantou essa semente entre todas as árvores. Regou-a todos os dias.
(...)O broto foi crescendo dia a dia, mais depressa do que todos os demais, até se transformar na árvore mais alta da floresta. Todos foram vê-la. Todos murmuraram sobre ela e esperaram... pelo Fuhrer. (...) Inflamado, ele deu ordens imediatas de que a árvore fosse derrubada.
(...) A sacudidora de palavras debateu-se até se libertar. Saiu correndo. Acercou-se da árvore e, enquanto o fuhrer golpeava o tronco com seu machado, trepou até chegar aos galhos mais altos. (...) Esperou a árvore tombar.
Mas a árvore não se mexeu. Passaram-se horas e mais horas, porém, apesar disso, o machado do fuhrer não conseguiu tirar uma única lasca do tronco.
(...) Passaram-se dias. As semanas se sucederam. Nem cento e noventa e seis soldados conseguiram causar o menor impacto na árvore da sacudidora de palavras.
(...)numa tarde, entrou na cidade um novo machadeiro. (...) O rapaz abriu sua sacola e tirou uma coisa muito menor que um machado (...) vasculhou a sacola à procura de pregos (...) e ele calculou que precisaria de quatro a fim de usá-los de apoio para os pés e chegar até lá.
(...)Ele levou muitas horas para atingir os últimos galhos e, ao fazê-lo, encontrou a sacudidora de árvores. (...)
-É você mesmo? Será que foi do seu rosto, pensou, que tirei a semente?
-Sou.
(...) Depois d eolharem e conversarem bastante, os dois desceram. As pessoas mal podiam acreditar no que viam e, no instante em que a sacudidora d epalavras e o rapaz puseram os pés no mundo, a árvore finalmente começou a exibir as marcas das machadadas. Surgiram machucados. Abriram-se fendas no tronco e a terra começou a tremer.
-Ela vai cair! - gritou uma moça. - A árvore vai cair!
Tinha razão. A árvore da sacudidora de palavras (...) soltou um gemido e foi sugada pelo chão. O mundo sacudiu e, quando, enfim, tudo se acalmou, a árvore ficou estendida em meio ao restante da floresta. (...) A sacudidora de palavras e o rapaz subiram no tronco horizontal. Abriram caminho por entre os galhos e começaram a andar. ao olharem para trás, notaram que a maioria dos espectadores tinham voltado para seus lugar4es. Lá dentro. Lá fora. Na floresta.
Mas, ao seguir andando, eles pararam várias vezes para escutar. Julgaram ouvir vozes e palavras às suas costas, na árvore da sacudidora de palavras.
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Sem mais comentários. O texto, por si só, fala tudo! Tudinho mesmo...
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Pensamentinho de cabeceira:
Vou dormir pensando sobre essa história e desejar com todas a sminhas forças que também eu seja uma sacudidora de palavras...
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